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Mario Gioia. São Paulo, 2025

 

"Yohana Oizumi vem a ser um bom nome para abrir as discussões do encantatório dentro da mostra. Com a tríade de Guardiões, a artista tem produção numerosa e de difíceis determinações rígidas. O espiritual fundamenta a obra, no entanto práticas ligadas a correntes da arte conceitual são importantes, numa poética polissêmica, que tem espaço para o tridimensional, a performance, a pintura e o desenho, entre outros meios. O conjunto de peças cujo material é oriundo de tapetes de um prédio fechado por anos e que virou lócus artístico na região central de SP de certa forma baliza Verdades construtivas, ensaios de encanto e lança um ar de enigma ao recorte."

Trecho do texto crítico realizado para a mostra "Verdades construtivas, ensaios de encanto“  na Luciana Caravello, São Paulo

 

Theo Monteiro. Rio de Janeiro, 2024

...”O potencial despótico da fé também aparece na poética de Yohana Oizumi, aqui presente com o trabalho Verbo, cujo título faz menção a abertura presente no primeiro capítulo do Evangelho de João. Nesse trabalho de aspecto instalativo, uma sequência de blocos de cera de abelha aparecem cravejados de tachinhas e com aberturas semelhantes a chagas abertas, de onde emana um azul oceânico muito vivo. A aparente beleza, construída por meio de um jogo de dourado com azul, acaba revelando muitas das feridas (físicas ou psicológicas) que interpretações fundamentalistas da espiritualidade podem infringir naqueles que a seguem.”

Trecho do texto crítico realizado para a coletiva “essa cidade sempre maravilhosa “ na Nara Roesler, Rio de Janeiro

Ana Carla Soler.  São Paulo, 2023

​​"A obra Êxodos apresenta desenhos que guardam ausências, as marcas dos vestígios do êxodo, sudário da existência de um povo. Em vasos, urnas e cálices, encontramos as marcas do humano, o que sobrou de quem abandonou seu território e peregrinou carregando apenas o que poderia levar. Ao mesmo tempo, esses formatos poderiam anunciar os contornos de relicários. Onde se armazena o que é para lembrar e para durar.​"

“Dos livros e documentos que registram histórias, Yohana reflete em inúmeros trabalhos sobre a Bíblia, seus contos e construções de discurso. Em uma sequência de transe, efeito meditativo e inspirador, a artista passa dias fixando tachinhas nas obras. São, para ela pele de cobra. Divisora da pureza e do pecado. Esse animal, ser cultuado em espiritualidades indígenas no Brasil, encontra em sua pesquisa, seu formato enquanto verbo. É a encarnação. É a pele que reveste e que, ao se descamar, permite emergir outras camadas.”

Rejane Cintrão. São Paulo, 2022.

 "A força do trabalho de Yohana é percebida na primeira vez que o vemos, seja por meio de um pequeno desenho, uma grande pintura, ou ao assistir à uma de suas tocantes performances.

 

É importante conhecer o processo na realização do trabalho da artista para melhor compreender sua extensa obra, não obstante sua juventude.  Lançando mão da oração e da profunda meditação antes e durante a fatura de seus trabalhos, como em um transe, a artista traz à tona questões de mulheres da história cristã, e de sua própria história, amalgamando seu corpo aos das personagens.

 

Natural de Rubiataba (GO), Yohana vive e trabalha em São Paulo, onde se formou no Centro Universitário Belas Artes, em 2019, se destacando com suas esculturas em argila, nas quais utiliza seu corpo como forma e meio de expressão. Se Ana Mendieta (Cuba, 1948- EUA 1985) ficou conhecida como a artista do corpo de terra, Oizumi pode ser a artista do corpo de pó, já que muitas de suas esculturas feitas a partir de seu corpo são descartadas após as performances, uma vez que a argila não queimada se desfaz facilmente, tornando-se pó. Várias esculturas presentes em suas instalações também possuem essa fragilidade, tornando-as ainda mais únicas e especiais.

 

Esta exposição apresenta trabalhos em diversos meios de expressão, como é o trabalho que a artista desenvolve diariamente em seu ateliê, onde passa longas noites. Desenhos e esculturas que são produzidos ao esgotamento e pinturas com várias camadas de tinta acrílica, papel, betume, carvão, entre outros materiais, são feitos a partir de muita ação, sistemática e ininterruptamente, por horas que levam, muitas vezes, ao esgotamento.

A instalação A Origem da Legião (6 mil dedos indicadores feitos um a um em cerâmica esmaltada e queimada) se localizada no centro da sala e surgiu a partir de um questionamento da artista sobre a procura da essência, da origem, o que está dentro e o que está fora, o que é o bem e o mal.  Está circundada pelas grandes pinturas de tons avermelhados, pretos e dourados, entre elas Cântico dos Cânticos e Anunciação, captando nosso olhar e atenção logo que adentramos a sala. Entretanto, devemos nos atentar, também, aos trabalhos de tamanhos menores, e não menos vigorosos - à exemplo das pequenas pinturas, e da série de desenhos Vê se há em mlm algum caminho mau, feita em 2020. É dela que surgem todos os outros trabalhos que vemos na exposição.  O visitante é contemplado, ainda, com o trabalho de grandes dimensões A volta ao seio, feito pela artista em seu pequeno ateliê, onde, sentada sobre o papel, desenhou em volta de seu corpo repetidas vezes.

 

A artista utiliza a arte como meio de viver e observar a transformação da vida, de sua obra, e de si mesma, se reinventando a cada dia. Se o nome Yohana significa “cheia da graça de Deus”, Yohana Oizumi é, também, cheia de energia, notável em suas performances e seus trabalhos nos quais transmuta materiais simples em obras complexas e impressionantes.  '' 

Do pó ao pulso. Exposição individual na Galeria de Babel | Curadoria Rejane Cintrão

Sylvia Werneck. São Paulo, 2021.

"Fazer arte é trazer para o agora o que não existia – daí o uso do verbo criar, frequentemente associado a um estado mental que mescla empenho prático e inspiração (nem sempre) metafísica. A obra resulta, então, da combinação desejo + entrega. No trabalho de Yohana Oizumi, o material opera como canalizador do processo. É a partir do enfrentamento emocionalmente ativado com a fisicalidade que a artista chega à concretização da forma. É seu próprio corpo que se lança vigorosamente neste enlace, com intensidade tal que, muitas vezes, o esgotamento físico determina o fim da performance.

Os materiais privilegiados são aqueles de maior plasticidade, mas que também carregam conceitos ligados a um propósito. Assim, lápis ou carvão estão no campo do desenho, ou seja, do desígnio; a argila (ou barro) pode ser moldada, enquanto a linha serve ao tecer. Todos estes termos denotam a criação, ou melhor, a construção de alguma coisa a partir de um desejo.

Em várias ações de Oizumi esta construção envolve também destruição, especialmente quando o elemento escolhido é o barro. A performance “Sub versões” começa com a artista diante de uma réplica em argila de seu corpo deitado. Ela então usa seu peso, mãos, pés, joelhos e cabeça para destruir este seu duplo, reduzindo-o a uma massa disforme. A seguir, modela-a freneticamente até torná-la uma proto-figura feminina. Igualmente violenta é esta relação em “Getsemani”, na qual o barro, apesar de estar aninhado em seu colo, é escavado e golpeado até que seja eliminado qualquer referente predeterminado. O questionamento das escrituras bíblicas aparece com destaque, especialmente quanto ao lugar reservado à mulher nestes textos, todos escritos por homens. A esta “lei”, ainda reproduzida hoje, a artista responde com a recusa à domesticação feminina, trazendo ao debate violações históricas que não podem mais ser normalizadas."  

Andrés I. M. Hernández. São Paulo, 2020.

"Construções Sublimes. Nesta conjugação de substantivo e adjetivo se define(m) a(s) exposição(ões) de Oizumi, Sanches e Pulquério no SUBSOLO- Laboratório de Arte. E é esta sublimidade que poderia definir os meandros conceituais da  mostra que fluem já desde seu título. O sublime  aqui na lógica das rupturas de apropriação  da arte contemporânea. [...]

[...], “Corpo” dissolve-se a permanente regressão cartográfica de um corpo simbólico do corpo humano para inserir os corpos múltiplos que semeiam conhecimento, instrução, posicionamento crítico e interdisciplinaridade nas obras de arte na exposição e o “Ritual” (ou RITUAIS) que aparece(m) como processo(s) e/ou pretexto(s) do fazer artístico, que aborda(m) questões culturais e sociais, provoca(m) tensionamentos nas abordagens de questões  distintivas à religião, às técnicas visuais desdobradas em modalidades artísticas contemporâneas e à manipulação das ferramentas para a concretização das mesmas em um diálogo coeso e vibrante desde o desenho, da escultura, a impressão digital, a colagem, a pintura, a cerâmica, a performance, a instauração e a instalação."     

Blueblee Magazine. London, 2021.

 

"Yohana uses different materials such as paper and clay, and lines to present radical counter-construction. The threshold of the materials’ deconstruction or reconstruction is a highly involved process. Every piece highlights the exhaustion of matter and Yohana herself. The modality of Yohana’s art is uniquely tied to the tension, attention, and apprehension she assigns to the material. She describes her work as a “clash between ‘bodies’ through performance” which can be seen in the interplay between its subtly drawn and fluidly sculpted properties. Inside Out is an iteration of Yohana’s inquiry into the social-psychological attributes of society and its systems. Its viscerality is a mark of its conceptuality as much as its materiality. Every textural line, mark, and mold provides a contour of the material’s resistance and flexibility. As spectators, we are tasked with exploring its indeterminacy."  

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